Proloterapia e a dor neuropática

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Você conhece a proloterapia?

A proloterapia é um método de tratamento regenerativo utilizado principalmente para as doenças degenerativas que afetam os sistemas muscular e esquelético, especialmente as famosas inflamações nos tendões.

Desenvolvida pelo médico George Hackett, baseado em sua experiência clínica e pesquisas, a proloterapia é uma técnica de injeção contemporânea. Várias substâncias injetáveis têm sido usadas e a principal e mais estudada é a dextrose hipertônica, uma solução de glicose. 

A dextrose hipertônica na proloterapia: 

Quando injetada no local lesionado, o uso da dextrose hipertônica tem como objetivo estimular a cicatrização endógena, ou seja, do próprio corpo, e por conta desses efeitos é chamada de Terapia de Injeção Regenerativa.

Método x doenças:

Se estamos falando do uso da dextrose hipertônica como tratamento de dor, então é claro que a eficácia desse método foi comprovada em ensaios clínicos. Esses ensaios estudaram diversas doenças no tendão, como a epicondilite lateral – conhecida como tendinite do tenista, e outras doenças tendíneas do ombro, joelho e calcanhar. 

Mas uma outra doença, que será o nosso foco daqui pra frente, para a qual a proloterapia tem se mostrado muito promissora como tratamento, consiste na dor neuropática. 

A dor neuropática:

Nessa doença, um ou mais nervos sofrem alterações em seu funcionamento, o que causa dores em queimação, choques e formigamento. Uma das causas dessas sensações é o aprisionamento do nervo entre os músculos, ligamentos e fáscias. 

Atualmente, várias hipóteses explicam o funcionamento da proloterapia como tratamento da dor neuropática e vamos falar sobre as duas principais. Pode parecer difícil de entender, mas tentarei deixar claro a relação entre os tópicos. Bom, as principais hipóteses são a modulação do Receptor TRPV1 e a Glicopenia neural. Comecemos pela primeira: 

Modulação do Receptor TRPV1:

Os nossos nervos possuem receptores em suas periferias (suas extremidades). Esses receptores têm a capacidade de modificar nossa sensibilidade aos estímulos que sentimos. Um desses receptores é o TRV, que é fortemente associado à dor neuropática crônica. 

Para entendermos a relação dessa doença com a queimação, temos que falar da capsaicina, uma das substâncias presentes na pimenta.

Bom, em nosso corpo, temos vários canais de íons e o único que é afetado pela capsaicina é o chamado de TRPV1, que justamente por essa condição é apelidado de “receptor de capsaicina” e a regulagem positiva desse canal TRPV1 causa uma sensação de queimação bem característica.

O manitol, um açúcar, reduz a sensação de queimação causada pela exposição à capsaicina, o que sugere que ele tenha um efeito calmante, ou antagônico, já que regula positivamente o TRPV1, direta ou indiretamente. 

A dextrose, substância utilizada na proloterapia, é semelhante em estrutura ao manitol e possui a mesma propriedade calmante neste receptor, o que explica a ação dessa substância com a sensação de queimação. 

Entenderam? Sigamos para a outra hipótese a ser estudada:

Glicopenia neural:

A glicopenia neural é também chamada de “falta de energia/alimento para o nervo”. A dor neuropática pode significar glicopenia, ou seja, baixo nível de açúcar ao redor do nervo em questão. 

Tanto o cérebro quanto os nervos periféricos possuem uma constante e alta necessidade de glicose. A injeção de dextrose pode corrigir a glicopenia e com isso,  reduzir a dor neuropática. 

Além disso, 40% dos nossos nervos periféricos, chamados somatossensoriais, são compostos de pequenos nervos sensíveis à capsaicina. Esses nervos possuem canais de íons TRPV1 em sua superfície e também, fibras C. 

As fibras C são de condução lenta e por isso, ligadas à dor neuropática. Aparentemente, essas fibras C possuem um papel homeostático (de equilíbrio), no monitoramento do nível de dextrose sistêmica. 

Vamos entender essa relação um pouco mais a fundo:

Um estudioso chamado MacIver relatou que quando fibras C isoladas são expostas in vitro a um ambiente com baixo nível de açúcar, ou seja, hipoglicêmico, em apenas 5 minutos, elas aumentam significativamente a frequência de descarga elétrica. Isso gera uma espécie de curto circuito na região, aumentando os disparos de dor para o paciente. 

A taxa de disparo da fibra C retornou ao normal dentro de 2 minutos após a substituição da D-glicose na solução de cultura, ou seja, quando colocada em um ambiente com glicose.

MacIver explica essas mudanças imediatas nas taxas de disparo neural ao voltar ao básico e falar do nosso metabolismo e do papel central da D-glicose, que é fornecer ATP, uma molécula de energia, para células animais e humanos. 

Calma, calma. Sei que parece complicado, mas é fácil de entender:

A hipoglicemia (baixa taxa de glicose no organismo) resulta na redução da atividade do ATP, que é fonte de energia para a célula, e também da bomba de sódio e potássio. Essa diminuição resulta em uma despolarização neuronal e na hiperexcitabilidade, ou seja, a excitação excessiva dos neurônios,  piorando o quadro de dor e evidenciando o papel da glicose para reversão do dessa condição, já que ela é fundamental para a regular a atividade do ATP e da bomba de sódio-potássio. 

Concluindo:

A Proloterapia Neural é um procedimento simples e de baixo custo que pode aliviar a dor neuropática. Os efeitos colaterais relatados mais frequentemente foram a dor temporária por conta da injeção e hematomas locais, o que é esperado.

Os benefícios desse tratamento são muitos e a técnica poderia ser empregada para uma variedade de neuralgias periféricas. Portanto, mais uma terapia que deve ganhar cada vez mais aplicações nos próximos anos. 

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